Como já fizemos no Advento, deixamos aqui a proposta de um Calendário que nos pode ajudar a viver melhor esta Quaresma. Já chega um bocadinho tarde mas ainda vai a tempo. Uma vez mais é da autoria de Patricia Rojo, uma jovem espanhola e a tradução e adaptação é da equipa do blog da MarCha.
Esperamos que sirva para fazer de cada dia deste tempo um passo significativo no caminho pessoal de cada um. Cada proposta está relacionada com o evangelho do dia, por isso seria bom que de vez em quando o fossem lendo e rezando. Está pensado para imprimir e colar nalgum sitio bem visivel ou para colocar como ambiente de trabalho no computador, mas se tiveres outras ideias conta-nos!
Quando chegamos a esta época sempre ouvimos falar de jejum, oração, de
termos que ser boas pessoas, que não podemos comer carne, nem doces,
nem...nem...nem...tanta coisa.
Será só isso? Bastará com pouparmos dinheiro, com lembrar-mo-nos (porque
estamos na quaresma) de rezar mais, de comer peixe à Sexta-Feira ou ao
fim-de-semana, como se isso fosse um esforço ou mesmo castigo para recordar o
sofrimento, morte e ressurreição do J.C.?
Isto basta?
Diz o Evangelho:
«E, quando jejuardes,
não mostreis um ar sombrio, como os hipócritas, que desfiguram o rosto para que
os outros vejam que eles jejuam. Em verdade vos digo: já receberam a sua
recompensa.
Tu, porém, quando
jejuares, perfuma a cabeça e lava o rosto, para que o teu jejum não seja
conhecido dos homens, mas apenas do teu Pai que está presente no oculto; e o
teu Pai, que vê no oculto, há-de recompensar-te.»
O jejum da simplicidade, da ajuda e entrega ao outro sem dominar ou
atuar pensando que somos os melhores. O
jejum dos nossos próprios sentidos em que não ficamos pela superficialidade e
aprendemos a ir mais fundo, a ser sensíveis a nós mesmos e à realidade que está
à nossa volta. O jejum do mundo da imagem, do instantâneo que nos prende e
obriga a viver e a comunicar-mo-nos a velocidades impressionantes...é tempo para
parar, de “saborear” as nossas relações, de criar espaços no nosso dia para o
silêncio e escutar o nosso interior. O jejum da comodidade que nos arrasta e
faz preguiçosos...temos que sair desse “bem estar” para ir à luta, ao esforço
para enfrentar os desafios, trabalhos e deveres de cada um. O jejum da
angustia, da tristeza...é o momento de “limpar” tudo aquilo que está a mais,
que não nos permite viver...
E quantas vezes ouvimos: “Temos que ser solidários, ajudar os pobres...”
«Guardai-vos de fazer
as vossas boas obras diante dos homens, para vos tornardes notados por eles; de
outro modo, não tereis nenhuma recompensa do vosso Pai que está no Céu.
Quando, pois, deres
esmola, não permitas que toquem trombeta diante de ti, como fazem os
hipócritas, nas sinagogas e nas ruas, a fim de serem louvados pelos homens. Em
verdade vos digo: Já receberam a sua recompensa. Quando deres esmola, que a tua
mão esquerda não saiba o que faz a tua direita, a fim de que a tua esmola
permaneça em segredo; e teu Pai, que vê o oculto, há-de premiar-te.»
Sim! Devemos ajudar...mas não com o tempo, nem alimentos, nem dinheiro
que está perdido ou a mais por casa...
É a esmola de um AMOR PRÁCTICO, que ajude aqueles que estão
necessitados, é o amor da partilha, em que ponho à disposição, em comum o que
tenho. É dar de comer ao que passa fome, vestir ao que passa frio, consolar ao
que está triste e deprimido. É partilhar a cultura em que vivemos (livros,
música, informação...). É partilhar o nosso tempo numa visita a idosos, presos,
estar com jovens e crianças que não têm ninguém, porque “o tempo é ouro” e nós podemos
partilhá-lo. Esmola é partilhar a nossa energia com outros que não têm...companhia
com o que está sozinho, olhos com quem está cego, pernas com aqueles que não
podem andar.
E tudo isto com amor, alegria, esperança em que a única coisa importante
é o bem do outro e não o próprio; porque o que busco é enriquecer o outro e não
a mim mesmo, é transformar a palavra “meu” em “nosso”. E há momentos em que
somos nós os que precisamos de ser ajudados e isso é difícil porque ficamos a
descoberto, sem máscaras de tal modo que o outro vê, sente e move-se pela nossas
fraquezas; precisamos de sinceridade, humildade e estarmos receptivos a que
aquele que está ao nosso lado possa amar-nos.
E dirão: “Temos que rezar...”
«Quando orardes, não
sejais como os hipócritas, que gostam de rezar de pé nas sinagogas e nos cantos
das ruas, para serem vistos pelos homens. Em verdade vos digo: já receberam a
sua recompensa. Tu, porém, quando orares, entra no quarto mais secreto e,
fechada a porta, reza em segredo a teu Pai, pois Ele, que vê o oculto, há-de
recompensar-te.”
É nesse contacto com o Pai e com o companheiro de Caminho que agradecemos
aquilo que damos e recebemos; que pedimos por aqueles que necessitam de ajuda e
pelos que podem ajudar...é na oração, no encontro com Deus que recuperamos
forças. Um encontro calado, intimo com Aquele que move o nosso coração aos irmãos
que precisam de nós e que pedem ajuda a todo o momento...é na oração que nos re-conhecemos
como filhos, amigos e companheiros de caminho nesta aventura de Quaresma.
É tempo! De CAMINHAR com sentido, entre o ambiente em que vivemos, entre
as pessoas com que partilhamos os nossos dias...
É o momento de ajudar e ser ajudado, de caminharmos humildes, juntos
partilhando momentos e emoções...com o exemplo de entrega e amor de Jesus.
“Seguir os passos daquele que habita o nosso coração, sem ter medo de
nada e confiantes de que estamos juntos nesta aventura.”
E ainda que o vento sopre fraco...ainda que tudo pareça igual...ainda
que sejamos esmagados pelo tempo...que não saibamos que fazer...há algo novo a
viver...Alguém dirá “Amai-nos uns aos outros como Eu vos amei”...podemos fazer
a diferença, aproveitar as lágrimas derramadas ao longo do caminho, encontrar a
força para gritar bem alto o que sentimos! Queremos! Sonhamos! E haverá sacrifícios,
dificuldades, medos...mas que nunca se apague a esperança, a alegria e a
vontade de continuar a partilhar os nossos caminhos cada vez mais fundo, com
mais intensidade...porque somos projectos de amor de Deus...
A MISSÃO COMEÇA AQUI...Hoje começa um "pequeno" caminho rumo à Páscoa, 40 dias dedicados a
refletir a nossa forma de vida, de entrega e o sentido que damos a tudo isto;
numa palavra...a nossa VOCAÇÃO!
Nunca te aconteceu ir pela rua e ao chegar a casa, ter a sensação de que uma quantidade enorme de pessoas passou por ti...e em ti não se
passou nada?
“La vida es bella e interesante
por sus dificultades, debilidades, gozos y maravillas que nos va poniendo
delante de los ojos, manos y mente...” (escrevia outro anónimo) e acaba
por ser interessante quando vais atento/a, sensível ao teu dia, às dezenas de
rostos que passam por ti e é nesse preciso momento em que se olham ou dizem um
“bom dia” que se cruzam os caminhos um do outro.
Hoje foi um desses dias em que tentei prestar
atenção. Não aconteceram coisas espetaculares mas,
talvez por serem as mais simples, fizeram deste dia uma autentica surpresa.
Fiz o percurso dos últimos dias; estação de
metro da Luz até ao Pombal...no metro, um jovem casal
trocava entre si um olhar feliz, brilhante e a jovem apertava nas suas mãos um
teste de gravidez, e assim ficaram todo o tempo (pelo menos até eu sair) no seu
silencio ruidoso da linha azul do metro de Lisboa. Mais tarde, passei pelo
Eduardo VII, aproveitei para sentar-me à sombra de uma árvore e observar dois
miúdos que jogavam à bola. Dois que não demoram nada em multiplicarem-se, a
formarem duas equipas de futebol e a improvisar umas balizas com as suas
mochilas.
E agora (contemplando o Tejo ao ritmo de um ou
outro pastel de Belém)... UAU!!!
Coisas que passam todos os dias mas que hoje me levaram a pensar que na minha vida as
decisões que tomei nem sempre foram autónomas e cheias
de sentido; faço-me consciente de que esse sentido foi-me proporcionado por
todas aquelas pessoas que se cruzaram, relacionaram e viveram comigo.
TENHO O CORAÇÃO CHEIO DE NOMES!!!
Entre pessoas que passam pela vida e deixam
algo em ti, às vezes um mero mas não menos agradável “bom
dia”; outras vezes pessoas que assinam o seu nome no teu coração de tal forma
que é impossível esquecê-las...viajamos entre cruzamentos constantes em que
PARTILHAR o nosso próprio caminho torna-se uma necessidade e só nos resta
agradecer por todas as oportunidades que nos foram dadas para viver.
E...
Em palavras que já
dava como perdidas pelo tempo,
Entre todos os pontos
que estavam fora lugar,
Entre olhares cruzados
sem razão,
Toques e sensações
buscadas...
Volto a esta encruzilhada cheia de dúvidas,
dor, alegria, esperança...cheia de pessoas e caminhos
com os quais decidi partir à aventura, enfrentar os meus medos e partilhar aquilo que de melhor e pior eu sou.
Quantas vezes paramos a pensar naquilo (em) que
vivemos?
Pelo menos naquilo que dizemos? Ou nos “n” sentimentos
com que surgem ao longo do dia?
Já há
muito tempo que tinha prometido dar noticias e finalmente estou aqui para
cumpri-lo, não só pelo dever, mas sim porque quando sentimos dentro grandes
emoções temos necessidade de partilhá-las com pessoas especiais e a MarCha para
mim é um grande grupo de pessoas muito especiais.
Como
sabem, continuo em Sevilha, uma bonita cidade espanhola, a viver a experiência
do noviciado. O noviciado é uma das etapas de formação para ser Irmão Marista,
são dois anos cheios de experiências de diferentes tipos que ajudam a discernir
a própria vocação, ou seja, continuar à procura do nosso lugar no mundo, do
sonho que Deus quer concretizar connosco e da nossa disponibilidade para isso.
Para mim tem sido um tempo muito especial e de muita intensidade. Como é que se
faz isso de discernir a vocação? De facto não é muito fácil e está longe de ser
uma ciência exata, é um caminho que tem um principio, mas não tem um fim, um
caminho com muitos acessos, muitas paisagens diferentes, muitos tipos de
pavimento e sobretudo muitos companheiros de caminho, os peregrinos que fazem
algumas etapas ao nosso lado e o Peregrino que nunca nos abandona. Para ser um
pouco mais concreto, nesta etapa do caminho temos a oportunidade de viver num
bairro marginal de Sevilha, trabalhar num programa de apoio escolar e tempo
livre com as crianças do bairro, viver numa comunidade com dois Irmãos
espanhóis e um Italiano, todos com histórias de vida apaixonantes, partilhar
vida e experiências com noviços de outras congregações no Internoviciado,
estudar algumas cadeiras de Teologia e aprofundar os nossos conhecimentos sobre
a historia e o carisma maristas.
Depois
de um ano cheio de grandes surpresas e pequenos gestos desses que fazem toda a
diferença, chegou o Verão, mas o noviciado não parou. Começou então um grande
percurso por toda a geografia ibérica e por todos os cantos do meu coração. Primeiro
um acampamento na praia com os miúdos do nosso bairro: uma semana com muita
intensidade e alegria. Logo depois um acampamento urbano perto de Madrid com
cerca de 100 crianças e jovens de todas as raças e cores: um poço de vitalidade
e energia e uma escola de amor, sorrisos e paciência. Uns dias depois a
profissão do Isaac, o irmão Marista mais “recente” da Europa, estive comigo
este ano no noviciado e foi uma grande emoção vê-lo dar este passo tão
importante. Depois dessa festa fui para Lugo onde passaria um mês, talvez um
dos meses mais bonitos da minha vida, num centro para pessoas com deficiência
intelectual e física. Além de aprender a dar banho, vestir, barbear, dar a
comida,... aprendi coisas muito mais importantes, aprendi a exercitar a
ternura, a olhar bem, a sorrir com a alma, a abraçar profundamente... Passado
esse mês cheio de bons momentos e grandes emoções fui rumo a Buitrago (Madrid) para
participar no Encontro Internacional de Jovens Maristas (Belivin’). Lá estive
com jovens maristas dos quatro cantos do mundo, de muitas nacionalidades,
culturas e diferentes circunstâncias. Apesar disso facilmente fizemos grandes
amizades, porque nos sentíamos unidos pelo sonho de Marcelino e pelo carisma
marista. Ao terminar esses dias marcadas pela juventude, o entusiasmo e a
alegria começaram outros com a mesma tonalidade: as JMJ em Madrid. Nesses dias
experimentei de forma especial a beleza e a grandeza de seguir Jesus no nosso
mundo...quem mais poderia juntar cerca de 2 milhões de jovens de todo o mundo
numa cidade? O ambiente que respirávamos lá era quase mágico, de grande
harmonia e amizade. Um grande momento para dar graças a Deus pela nossa
juventude e pela fé que nos faz avançar passo a passo.
Em
poucas linhas percorri quase todo o meu Verão...só faltou falar dos dias que
passei em casa com a minha família e do regresso a Sevilha. E aqui estou,
aberto a este novo ano de noviciado que começa agora, com muita vontade de
vivê-lo em cheio, “na companhia de Maria, como Marcelino para seguir a Jesus”.
Ah, este ano tenho uma nova companhia, o Rui!!! Somos os dois únicos noviços
maristas de toda a Europa... é uma grande responsabilidade!!! (e um grande
orgulho :p).
Bem,
não escrevo mais para não aborrecer, mas já sabem como falar comigo se quiserem
e quando quiserem!