E já começamos a Quaresma!!!
Quando chegamos a esta época sempre ouvimos falar de jejum, oração, de
termos que ser boas pessoas, que não podemos comer carne, nem doces,
nem...nem...nem...tanta coisa.
Será só isso? Bastará com pouparmos dinheiro, com lembrar-mo-nos (porque
estamos na quaresma) de rezar mais, de comer peixe à Sexta-Feira ou ao
fim-de-semana, como se isso fosse um esforço ou mesmo castigo para recordar o
sofrimento, morte e ressurreição do J.C.?
Isto basta?
Diz o Evangelho:
«E, quando jejuardes,
não mostreis um ar sombrio, como os hipócritas, que desfiguram o rosto para que
os outros vejam que eles jejuam. Em verdade vos digo: já receberam a sua
recompensa.
Tu, porém, quando
jejuares, perfuma a cabeça e lava o rosto, para que o teu jejum não seja
conhecido dos homens, mas apenas do teu Pai que está presente no oculto; e o
teu Pai, que vê no oculto, há-de recompensar-te.»
O jejum da simplicidade, da ajuda e entrega ao outro sem dominar ou
atuar pensando que somos os melhores. O
jejum dos nossos próprios sentidos em que não ficamos pela superficialidade e
aprendemos a ir mais fundo, a ser sensíveis a nós mesmos e à realidade que está
à nossa volta. O jejum do mundo da imagem, do instantâneo que nos prende e
obriga a viver e a comunicar-mo-nos a velocidades impressionantes...é tempo para
parar, de “saborear” as nossas relações, de criar espaços no nosso dia para o
silêncio e escutar o nosso interior. O jejum da comodidade que nos arrasta e
faz preguiçosos...temos que sair desse “bem estar” para ir à luta, ao esforço
para enfrentar os desafios, trabalhos e deveres de cada um. O jejum da
angustia, da tristeza...é o momento de “limpar” tudo aquilo que está a mais,
que não nos permite viver...
E quantas vezes ouvimos: “Temos que ser solidários, ajudar os pobres...”
«Guardai-vos de fazer
as vossas boas obras diante dos homens, para vos tornardes notados por eles; de
outro modo, não tereis nenhuma recompensa do vosso Pai que está no Céu.
Quando, pois, deres
esmola, não permitas que toquem trombeta diante de ti, como fazem os
hipócritas, nas sinagogas e nas ruas, a fim de serem louvados pelos homens. Em
verdade vos digo: Já receberam a sua recompensa. Quando deres esmola, que a tua
mão esquerda não saiba o que faz a tua direita, a fim de que a tua esmola
permaneça em segredo; e teu Pai, que vê o oculto, há-de premiar-te.»
Sim! Devemos ajudar...mas não com o tempo, nem alimentos, nem dinheiro
que está perdido ou a mais por casa...
É a esmola de um AMOR PRÁCTICO, que ajude aqueles que estão
necessitados, é o amor da partilha, em que ponho à disposição, em comum o que
tenho. É dar de comer ao que passa fome, vestir ao que passa frio, consolar ao
que está triste e deprimido. É partilhar a cultura em que vivemos (livros,
música, informação...). É partilhar o nosso tempo numa visita a idosos, presos,
estar com jovens e crianças que não têm ninguém, porque “o tempo é ouro” e nós podemos
partilhá-lo. Esmola é partilhar a nossa energia com outros que não têm...companhia
com o que está sozinho, olhos com quem está cego, pernas com aqueles que não
podem andar.
E tudo isto com amor, alegria, esperança em que a única coisa importante
é o bem do outro e não o próprio; porque o que busco é enriquecer o outro e não
a mim mesmo, é transformar a palavra “meu” em “nosso”. E há momentos em que
somos nós os que precisamos de ser ajudados e isso é difícil porque ficamos a
descoberto, sem máscaras de tal modo que o outro vê, sente e move-se pela nossas
fraquezas; precisamos de sinceridade, humildade e estarmos receptivos a que
aquele que está ao nosso lado possa amar-nos.
E dirão: “Temos que rezar...”
«Quando orardes, não
sejais como os hipócritas, que gostam de rezar de pé nas sinagogas e nos cantos
das ruas, para serem vistos pelos homens. Em verdade vos digo: já receberam a
sua recompensa. Tu, porém, quando orares, entra no quarto mais secreto e,
fechada a porta, reza em segredo a teu Pai, pois Ele, que vê o oculto, há-de
recompensar-te.”
É nesse contacto com o Pai e com o companheiro de Caminho que agradecemos
aquilo que damos e recebemos; que pedimos por aqueles que necessitam de ajuda e
pelos que podem ajudar...é na oração, no encontro com Deus que recuperamos
forças. Um encontro calado, intimo com Aquele que move o nosso coração aos irmãos
que precisam de nós e que pedem ajuda a todo o momento...é na oração que nos re-conhecemos
como filhos, amigos e companheiros de caminho nesta aventura de Quaresma.
É tempo! De CAMINHAR com sentido, entre o ambiente em que vivemos, entre
as pessoas com que partilhamos os nossos dias...
É o momento de ajudar e ser ajudado, de caminharmos humildes, juntos
partilhando momentos e emoções...com o exemplo de entrega e amor de Jesus.
“Seguir os passos daquele que habita o nosso coração, sem ter medo de
nada e confiantes de que estamos juntos nesta aventura.”
E ainda que o vento sopre fraco...ainda que tudo pareça igual...ainda
que sejamos esmagados pelo tempo...que não saibamos que fazer...há algo novo a
viver...Alguém dirá “Amai-nos uns aos outros como Eu vos amei”...podemos fazer
a diferença, aproveitar as lágrimas derramadas ao longo do caminho, encontrar a
força para gritar bem alto o que sentimos! Queremos! Sonhamos! E haverá sacrifícios,
dificuldades, medos...mas que nunca se apague a esperança, a alegria e a
vontade de continuar a partilhar os nossos caminhos cada vez mais fundo, com
mais intensidade...porque somos projectos de amor de Deus...
A MISSÃO COMEÇA AQUI...Hoje começa um "pequeno" caminho rumo à Páscoa, 40 dias dedicados a
refletir a nossa forma de vida, de entrega e o sentido que damos a tudo isto;
numa palavra...a nossa VOCAÇÃO!
Boa viagem a tod@s...
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