segunda-feira, 6 de outubro de 2008

Testemunho de Moçambique -Rita- II

Moçambique é um país dez vezes maior que Portugal, um país com muitas dificuldades a todos os níveis… A primeira sensação que tive foi que estava tudo por fazer! Só pensava para mim: “Mas afinal o que vim aqui eu fazer?! O que poderá um mês da minha vida mudar neste povo… Eles precisam de tanta coisa…”

Depois de Maputo, e do confrontar com a realidade muito diferente da nossa, partimos para Tete. Em Tete as Irmãs têm um orfanato onde iríamos ficar apenas de passagem, segundo o que tínhamos planeado, mas por imprevistos tão próprios da missão tivemos que permanecer uma semana nesse orfanato! E ainda bem! Sempre ouvi dizer que Deus escreve direito por linhas tortas!... Aquilo que nos pareceu ao início mais um imprevisto, tornou-se para mim uma das experiências mais marcantes de toda a missão. Naquela casa existem 105 crianças órfãs, 2 irmãs e meia dúzia de Titias (funcionárias). O nosso dia começava bem cedo, e era sempre preenchido com jogos, abraços, brincadeiras, explicações depois da escola, canções, aprender português, consolar e fazer palhaçadas para aquelas que por algum motivo choravam, ajudar nas refeições, etc… Em cada momento havia sempre que fazer… nem que fosse apenas fazer uma careta e cócegas para a Calua se rir às gargalhadas! =) Recordo com saudade aquela voz da Odete, uma menina de 4 anos que apesar do seu aspecto frágil e doente (devido à sub-nutrição e HIV positivo) dizia “Mana Tita!” como quem diz: Mana Rita!

Sentia-me a mamã que muitas delas nunca tiveram. Muitas vezes em cada dedo das minhas duas mãos tinha uma mãozinha de cada criança, para que desta forma todos pudessem dar-me a mão. Deus estava em cada uma delas… E em cada uma delas eu via tantas vezes o amor infinito de um Deus que nos quer felizes! Cada dia e sorriso eram uma vitória… porque sabíamos que aquele dia tinha sido um bocadinho melhor para cada um de nós, não porque tinham recebido uma playstation ou visto uma nova série dos Morangos com açúcar… Mas sim, porque tínhamos juntos convivido e aprendido uns com os outros a arte de amar no meio de tanta miséria e sofrimento. Lá dei o verdadeiro valor à minha família, ao meu país, às oportunidades da minha vida… Afinal parece que aqui (Portugal) tudo temos para poder acreditar em Deus e no amor, porque parece que quase nada nos falta!… Muitas vezes me continuava a perguntar: “Mas porque me enviaste a mim, Senhor?!” Sentia-me tão pequenina para a tão grande missão que a cada manhã recomeçava. Ao mesmo tempo, aquele ritmo e vontade de ajudar em tudo não me dava muito tempo para parar e reflectir em tudo o que vivia… Pedia todos os dias a Deus – “Que as minhas sejam as Tuas mãos…”

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