O Ir. Rui Rua nasceu em Magueija (Lamego) a 20-10-1975. Fez a sua formação marista no Instituto Marista de Vouzela, no Lar Marista de Ermesinde, na Comunidade Marista de Benfica (Lisboa) “Noviciado Marista de Torrent (Valência/Espanha)”.
No Colégio Marista de Carcavelos foi catequista e professor de Educação Moral e Religiosa Católica. Neste período, concluiu os seus estudos em Ciências Religiosas (Mestrado) na Universidade Católica Portuguesa.
No presente ano lectivo foi destinado ao Instituto Marista de Vouzela como formador de aspirantes maristas, professor de Educação Moral e colaborador na Pastoral Juvenil Marista. Ele vai fazer a sua Profissão Perpétua no próximo dia 25 de Outubro, em Vouzela. A Profissão Perpétua é o momento da caminhada vocacional marista em que se faz a Consagração definitiva a Deus, após alguns anos de consagração temporária. Todos os membros de MarchaVouzela querem dar-lhe os parabéns e unir-se a ele neste acontecimento tão importante para ele, para o Mundo Marista e de um modo especial para nós.
E agora perguntam vocês: e viste elefantes? Pois… apesar de não ter visto elefantes, houve um domingo em que fomos com o Padre Tomás (padre Jesuíta) celebrar a Eucaristia pelas aldeias. Nesse domingo estive numa aldeia cuja tradução do seu nome é: O sítio onde os elefantes vêm beber! =) Deus também tem sentido de humor! =) Para terminar em grande a missão estive na casa dos Irmãos Maristas (que eram nossos vizinhos em Matola – perto de Maputo) e conheci o Irmão António (Irmão Marista português) que me disse que tinha chegado há uma semana de Portugal e que tinha estado no São Macário com o nosso Ir. Diamantino! =) Deus torna o mundo mesmo pequeno! Tão pequenino, tão pequeno que ao fazer o chek-in no aeroporto para vir para Portugal estive e abracei a querida Ir. Tassy!! =D
Cheguei feliz e com uma maior visão do mundo e do projecto de Deus para o mundo! =) Sabem? “A vida não vai parar, vai como o vento, tens tudo a dar não percas tempo! Podes saber que vais chegar… Onde Deus te levar!” =) Por isso, temos de sair do nosso comodismo e fazer o esforço para em cada dia possamos adormecer felizes pelo cansaço de tornar as pessoas que estão à nossa volta felizes! =)
Antes de terminar gostava de agradecer a todos vocês que sei que rezaram e estiveram comigo! Obrigado do fundo do coração! Senti a presença da vossa oração e lá recordei e rezei também pela nossa Mar-cha – que é cada um de nós. Espero que o vosso verão também tenha sido muito rico e que este novo ano lectivo nos torne cada vez mais rosto de Cristo.
Estou ansiosa por vos voltar a ver! Força para o início deste ano lectivo!
Houve alguns dias em que participei nas chamadas brigadas móveis para promoção de saúde pelas aldeias. Estas brigadas eram compostas por uma equipa de profissionais de saúde que se deslocam pelas aldeias onde fazem campanhas de vacinação, consultas pré-natais, consultas de saúde infantil e educação para a saúde. Aqui vi realizado o meu sonho de criança, não era com uma mala de primeiro socorros às costas a correr ao lado de elefantes, mas sim num jipe pelas aldeias ajudando e vendo a realidade concreta de povo – com as suas dificuldades, sofrimentos e alegrias – elas eram as pessoas do meu sonho! Deus consegue surpreender verdadeiramente. Já era tanto O que Ele me tinha dado até ali… Mas mesmo assim Ele não se cansava de Me dar provas de que Ele estava verdadeiramente comigo naquela missão. Deus levou-me sempre ao Seu colo, e mostrou-me sempre que o Seu mundo e projecto não era aquele “mundinho” em por norma vivemos no quotidiano. Todos nós sabemos que existem muitas pessoas que sofrem, muitas pessoas que choram, muitas pessoas que não têm o que comer… Mas achamos sempre que é lá longe e por isso não podemos fazer nada por e com elas. Mas naquele momento ali eu sentia nas minhas mãos as suas vidas e realidade! Às vezes, nós jovens, pomos tantas dúvidas a Deus e à nossa ânsia de sonhar, e tantas vezes não confiamos e arriscamos Nele e por Ele. Quantas vezes dizemos “eu quero seguir o amor e a verdade” mas quando vamos ao nosso dia-a-dia concreto esquecemo-nos de alimentar e pôr a render este nosso propósito. Se custa? Custa! Se é fácil? Não, não o é. É assim que nos tornamos felizes? Sim é! Há uma coisa que nunca nos podemos esquecer: Deus está em nós e é por nós… temos de confiar e pedir-Lhe ajuda, porque os Seus caminhos não são os nossos. “Por isso, vos digo: Pedi, e dar-se-vos-á; buscai, e achareis; batei, e abrir-se-vos-á. Pois todo o que pede recebe; o que busca encontra; e a quem bate abrir-se-lhe-á. Qual dentre vós é o pai que, se o filho lhe pedir pão, lhe dará uma pedra? Ou se pedir um peixe, lhe dará em lugar de peixe uma cobra? Ou, se lhe pedir um ovo lhe dará um escorpião? Ora, se vós, que sois maus, sabeis dar boas dádivas aos vossos filhos, quanto mais o Pai celestial dará o Espírito Santo àqueles que lho pedirem?” (Lc, 11:9)
Chegava, então, o dia que íamos para Lifidzi. Lifidzi é uma pequena vila a 4horas de Tete. Aqui as irmãs gerem uma maternidade e centro de saúde. Distribuímo-nos por os diferentes serviços consoante as competências e qualidades de cada uma. A mim coube-me na parte da manhã ajudar o único profissional de saúde da zona da Triagem (zona que funciona como urgências gerais!) – o enfermeiro Domingos. Ali a minha missão era ajudar a atender e resolver todos os casos das pessoas com as mais variadas patologias da enorme fila que todas as manhãs se juntava à nossa porta. Os casos que não conseguíamos resolver encaminhávamos para o Hospital que era bastante longe. Muitas daquelas pessoas caminhavam horas para poderem ser atendidas naquela manhã – crianças, mamãs, jovens, idosos… Maioria delas não falava português, mas sim o dialecto daquela região – o Nihanja. Como podem imaginar as nossas manhãs eram de muito trabalho. Ali eu não era uma mamã como no orfanato, mas alguém em quem as pessoas colocavam toda a sua confiança para poderem ver o seu filho/mãe/tio/irmão/amigo tratado. Ali tínhamos de agarrar em todos os conhecimentos e poucos recursos que tínhamos e simplesmente ajudar. Ali pensava tantas vezes: “como estas pessoas aguentam tanto sofrimento? Se fosse em Portugal resolveríamos assim, mas aqui não há esse medicamento ou não temos esse material…” E o espírito de improviso nascia. Durante as tardes acompanhava e dava o meu contributo na maternidade. Ali consegui perceber como é tão belo o dom da vida! =) Quando peguei pela primeira vez num bebé que acabou de chorar e mostrar a vida que Deus deixou nele, senti uma felicidade inexplicável! Deus fez-nos criaturas mesmo belas! Para cada uma daquelas crianças pedia a Deus para que crescessem e fossem homens e mulheres testemunhas do dom e beleza da vida… Que em cada uma, Deus permitisse crescer o seu potencial de serem Homens Novos para o mundo! É incrível ver como uma mamã esquece o sofrimento todo que passa no trabalho de parto, no momento em que amamenta e fica com o seu filho. O perdão de Deus para cada homem será também assim. Afinal, Ele fez-nos à Sua imagem e semelhança!
Moçambique é um país dez vezes maior que Portugal, um país com muitas dificuldades a todos os níveis… A primeira sensação que tive foi que estava tudo por fazer! Só pensava para mim: “Mas afinal o que vim aqui eu fazer?! O que poderá um mês da minha vida mudar neste povo… Eles precisam de tanta coisa…”
Depois de Maputo, e do confrontar com a realidade muito diferente da nossa, partimos para Tete. Em Tete as Irmãs têm um orfanato onde iríamos ficar apenas de passagem, segundo o que tínhamos planeado, mas por imprevistos tão próprios da missão tivemos que permanecer uma semana nesse orfanato! E ainda bem! Sempre ouvi dizer que Deus escreve direito por linhas tortas!... Aquilo que nos pareceu ao início mais um imprevisto, tornou-se para mim uma das experiências mais marcantes de toda a missão. Naquela casa existem 105 crianças órfãs, 2 irmãs e meia dúzia de Titias (funcionárias). O nosso dia começava bem cedo, e era sempre preenchido com jogos, abraços, brincadeiras, explicações depois da escola, canções, aprender português, consolar e fazer palhaçadas para aquelas que por algum motivo choravam, ajudar nas refeições, etc… Em cada momento havia sempre que fazer… nem que fosse apenas fazer uma careta e cócegas para a Calua se rir às gargalhadas! =) Recordo com saudade aquela voz da Odete, uma menina de 4 anos que apesar do seu aspecto frágil e doente (devido à sub-nutrição e HIV positivo) dizia “Mana Tita!” como quem diz: Mana Rita!
Sentia-me a mamã que muitas delas nunca tiveram. Muitas vezes em cada dedo das minhas duas mãos tinha uma mãozinha de cada criança, para que desta forma todos pudessem dar-me a mão. Deus estava em cada uma delas… E em cada uma delas eu via tantas vezes o amor infinito de um Deus que nos quer felizes! Cada dia e sorriso eram uma vitória… porque sabíamos que aquele dia tinha sido um bocadinho melhor para cada um de nós, não porque tinham recebido uma playstation ou visto uma nova série dos Morangos com açúcar… Mas sim, porque tínhamos juntos convivido e aprendido uns com os outros a arte de amar no meio de tanta miséria e sofrimento. Lá dei o verdadeiro valor à minha família, ao meu país, às oportunidades da minha vida… Afinal parece que aqui (Portugal) tudo temos para poder acreditar em Deus e no amor, porque parece que quase nada nos falta!… Muitas vezes me continuava a perguntar: “Mas porque me enviaste a mim, Senhor?!” Sentia-me tão pequenina para a tão grande missão que a cada manhã recomeçava. Ao mesmo tempo, aquele ritmo e vontade de ajudar em tudo não me dava muito tempo para parar e reflectir em tudo o que vivia… Pedia todos os dias a Deus – “Que as minhas sejam as Tuas mãos…”
Antes de mais queria pedir desculpa de ainda não ter partilhado com todos o meu verão pelas terras de Moçambique, não foi por esquecimento mas sim por necessidade de tempo para “ruminar” todo aquele tempo maravilhoso que por lá passei e desta forma conseguir passar para palavras um pouquinho daquilo que vivi.
Desde pequenina um dos meus sonhos era andar de mala de primeiros socorros a correr por grandes planícies ao lado de elefantes! =) Hihihi… Pois, um simples sonho de criança… Mas a verdade é que ele sempre ficou no meu pensamento ate aos dias de hoje. Há dois anos uma amiga e colega de faculdade (Filipa) convidou-me para abraçar um projecto de voluntariado das Irmãs de São José de Cluny. Comecei-me a interessar e passávamos muitas horas a falar de missão e voluntariado. Após um ano de formação e de discernimento junto de Deus… sentia vontade de ir e confiar naquilo que Deus me ia segredando, mas ao mesmo tempo cá dentro sentia um medo e receio de arriscar. Não foi fácil decidir, mas muitas pessoas (e muitas vezes alguns de vós) foram-me ajudando a perceber que a decisão certa seria ir… e assim parti, com a Filipa e a Olinda, no dia 29 de Julho rumo a Moçambique… E no meu interior pensava: “Quando por Deus se arrisca, arrisca-se sempre bem!” =)
Agora perguntam vocês, e então e lá? Valeu a pena arriscar? Valeu sim…e não sabem o quanto.